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Entrevista a Benvindo Barros – Músico fala sobre a sua vida e música

Natural de Cabo Verde, em 1971, com 17 anos, rumou a Portugal, onde decidiu seguir o sonho de ser músico. Um ano depois, iniciou a aprendizagem de guitarra e piano, e em 1997 lançou o seu primeiro álbum “Graças a Deus”.Músico, cantor, compositor e letrista, Benvindo Barros conservou as memórias que o têm ajudado a escrever sobre o povo, a gente e os costumes de Cabo Verde e afirma que os obstáculos não o vão impedir de continuar a escrever música e a cantar sobre a sua cultura.Benvindo Barros relembrou o gosto pela música que começou em Cabo Verde onde “andava sempre atrás daqueles que tocavam”. Na verdade, a sua carreira poderia ter sido outra, ainda em Cabo Verde queria ser padre e ir para o seminário, sobretudo porque “via aqueles indivíduos a tocar na igreja e era uma alucinação”.Quando veio para Portugal, ir para o seminário continuava a fazer parte dos seus planos. No entanto, deparou-se com uma vida totalmente diferente. Foi para Lisboa, onde entrou para a Escola Duarte Costa e começou a aprender a tocar guitarra.Decidiu, depois, mudar-se para o Porto, onde procurou encontrar a comunidade cabo-verdiana de Vila Nova de Gaia. Acabou por arranjar trabalho na construção civil e só mais tarde viria a mudar-se para o Algarve.

Gravou o seu primeiro álbum em Lisboa, em 1997, já trabalhava na construção civil, no entanto queria continuar a fazer música. Explicou que se “agarrou” à construção civil como uma defesa, uma forma de subsistir, contudo era e é a música que o ajuda a viver.O álbum “Luar di Sperança”, o 3º do artista, foi lançando em 2020 em plena pandemia COVID-19, contudo foi construído muito antes e, segundo o artista, é “um álbum com história própria, Luar di Sperança é a minha saída de Cabo Verde”.Em relação ao seu álbum mais recente, lançado este ano, “Maturidade”, Benvindo Barros diz não se tratar da sua idade, afirmando ser “aquilo que construí ao longo da minha vida, o meu percurso”. Com 12 músicas e 5 estilos musicais distintos – batuque, coladeira, morna, bossa e funaná – este álbum reflete sobre Cabo Verde e o seu povo.Os obstáculos que encontrou ao longo da sua trajetória não o impediram de continuar a desenvolver a sua arte e a sua música. Explica que maturidade é precisamente isso, a sua vida na música e “todos os sacrifícios, todo o esforço”.

Influências musicais

Ao longo do seu percurso foram vários os artistas que inspiraram e influenciaram a sua arte, destacou nomes como Ildo Lobo e Vitorino. Revelou ainda grande admiração pelo trabalho de Cesária Évora, sobretudo pelo impulso que proporcionou à música cabo-verdiana.Bob Marley foi outro dos nomes mencionados, por considerar que a sua música e forma de tocar faziam dele “uma pessoa do povo”. No entanto, a sua grande inspiração revelou ter sido Zeca Afonso, sobretudo por, tal como este, considerar-se um músico de resistência.

Obstáculos/Desafios


A conciliação da vida profissional de músico com a vida pessoal nem sempre foi fácil e as pessoas que o rodeiam, muitas vezes, não compreenderam a exigência do seu trabalho no ramo cultural, que segundo o artista é um trabalho que “exige sacrifício e às vezes acaba por ser à custa das pessoas que estão à nossa volta”.Refletiu que o equilíbrio entre o trabalho na construção civil e a vida de músico era difícil  de alcançar, destacando que houve dias em que tocava de noite e trabalhava de dia, não lhe restando quase tempo para dormir. A responsabilidade para com os filhos fez com que mantivesse, por vezes, a música em segundo plano, por saber a dificuldade em conseguir sustento da sua arte.Um dos grandes obstáculos com o qual se deparou foi a falta de valorização e reconhecimento da cultura musical africana, dizendo que o entristecia “saber de antemão que não era valorizado, que não me chamavam de artista”.O artista expressou ainda a vontade em que haja mais concertos de música africana no Algarve e, especialmente, no concelho de Silves e sublinhou a importância da cultura africana ser valorizada em Portugal, para que exista um verdadeiro intercâmbio cultural entre países.Na sua opinião, “A cultura é a cultura, não se pode pôr as coisas a meio termo. Quando não é valorizada e não se procura uma convivência, todos perdem.” Destacou ainda a grande presença da comunidade de cabo-verdianos no Algarve e que muitas destas pessoas não têm a oportunidade de assistir não só a um concerto, mas a um debate, uma conversa sobre a sua cultura.Espera que Silves, onde vive, comece a olhar para a cultura no seu todo, não se esquecendo dos africanos que estão cá e que apesar de já cá estarem há muitos anos estão ligados às suas raízes. Na sua perspetiva “era muito positivo convidar mais artistas africanos a dar concertos no concelho e na freguesia, pois a fusão cultural é essencial”.

Rituais

Antes de subir ao palco pensa muito na sua mãe, uma das razões pelas quais continua, ainda hoje, a fazer música. Reflete que a alegria e orgulho por esta expressados com o lançamento do seu primeiro álbum motivou-o ao longo da sua carreira.Conecta-se com a sua fé, através de um terço que está sempre consigo, e com a sua cultura e país ao usar alguns panos tradicionais de Cabo Verde. Expressou, ao longo da entrevista, que é a fé que ajuda os artistas e as pessoas no geral.

 Concertos

Dos concertos que deu diz ter especial apreço pelo que aconteceu a 22 de agosto, perto da Praia do Vau em Portimão, no qual atuou com músicos de Lisboa que trabalharam anteriormente com Cesária Évora.A contribuição do grupo de 12 batucadeiras com quem atuou foi igualmente destacada, referindo que o grupo faz parte do seu projeto e que complementam a sua escrita sobre o povo de Cabo Verde e os seus costumes. Nos seus concertos, o artista não se esquece do mais importante e por vezes mais básico “que é a ligação do povo com a cultura”.De relembrar também que Benvindo Barros subiu ao palco do Teatro Mascarenhas Gregório a 29 de abril de 2023, onde apresentou o seu projeto “Cantar Cabo Verde”, num concerto onde se assinalou os seus 35 anos de carreira.

Texto: Inês Jóia